domingo, 25 de julho de 2010

Coisas pequenas - Plantago Coronopus

Estou convencido que há uma enormidade de plantas e flores a que as abelhas vão e de que pouco se fala ou, para ser mais exacto, de que pouco se ouve falar, talvez porque não intervêm directamente na feitura do mel, e muitas vezes no fim o mérito vai todo para o rosmaninho, ou para a urze, para esta ou para aquela...
Se pensarmos na colecta de pólen ou propolis, já temos que olhar a um maior numero de plantas.
Se nos pusermos no lugar das abelhas então parece-me que essas plantas de que não se fala tanto assumem um papel ainda mais importante.
Quero com isto dizer que, para as abelhas chegarem ao ponto de nos servirem o delicioso mel de "seja lá o que for", já houve muito trabalho em capítulos anteriores, assim como para que as abelhas tenham condições de passar bem o inverno e começar com a pata direita o ano seguinte, há muito trabalho pela frente.


Já no ano passado encontrei abelhas nesta planta que nasce espontânea em muitos sítios, mas não tantas como este ano. Como a achei parecida com as Tanchagens (Tanchagem Maior, Menor, etc) presumi que seria da família, e a minha pesquisa leva-me a crer que o seu nome científico seja Plantago Coronopus. Mas como há sempre a dúvida, se algum visitante achar que seja outro, fico agradecido se o disser!
Não sei o seu nome vulgar por estas paragens mas segundo a UTAD os seus nomes comuns são vários: Corno-de-veado, Diabelha, Diabelha-dos-Açores, Engorda-ratos, Erva-pulgueira, Tanchagem-corno-de-ganso, Tanchagem-corno-de-veado, Zaragatoa, etc...


Que as abelhas recolhem pólen desta planta não é difícil de ver, já em relação a néctar é mais difícil de dizer. O que me pareceu pelo numero de abelhas que vi nelas foi que serão provavelmente uma boa fonte de pólen pálido, mas não será pelo tanto néctar que as abelhas se dirigem a elas...






No caso desta foto parece até que se nota o movimento das patas da frente
juntando o pólen à bolsa da pata traseira direita, mas estou apenas
a presumir que seja assim que as abelhas fazem!

E o pólen não deve ser pouco porque quando as abelhas poisavam na planta, desta desprendia-se uma pequena nuvem de pó, de tal maneira que algumas abelhas andavam cobertas dele, enfarinhadas principalmente na zona da dabeça! A cerca de 200m do local, a entrada de abelhas nas colmeias com estas bolas de pólen nas patas ainda me pareceu significativa...


Com esta planta convivem muitas outras espontâneas tal como os Trevos, e outras Tanchagens como é o caso da Tanchagem Menor (Plantago lanceolata) nas duas fotos seguintes, na qual eu nunca vi nenhuma abelha.
Em relação às Tanchagens já ouvi dizer que podem ser algo úteis nas picadas das abelhas e outros insectos.




E algumas destas fotos até poderiam ser bem bonitas não fosse a notável impressão digital do fotografo em cada uma delas (nota para mim mesmo: limpar a lente antes de tirar fotografias)!
Isto é que é assinar o trabalho!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Obreiras e Mães

Todas as abelhas são fêmeas e têm a capacidade de pôr ovos, mas apenas as rainhas acasalam e por isso os ovos que põem no fundo dos alvéolos podem ou não ser fecundados. Assim se o alvéolo for de obreira, ou se for uma taça real, a rainha põe um ovo fecundado e nascerá uma fêmea (obreira ou rainha), se o alvéolo for de zangão a rainha põe um ovo não fecundado e o resultado é um zangão.
Por isso pode-se dizer que os zangãos não têm pai, já que os ovos que lhe dão origem não são fecundados e por isso a sua informação genética é toda da rainha da colónia! A este tipo de reprodução, em que um ovo mesmo não sendo fertilizado dá origem a um novo ser, dá-se o nome de Partenogénese.


Se um enxame está muito tempo sem rainha, à medida que vai deixando de existir criação nova, as próprias abelhas obreiras comuns começam a pôr ovos, mas como nunca acasalaram com nenhum zangão os ovos não são fecundados e o resultado dessa postura é sempre um zangão!
Ora... isto pensava eu, até numa das pesquisas que se fazem pela net a dentro ter encontrado referências a abelhas de mel obreiras, que apesar de não serem fecundadas, dos seus ovos nascem fêmeas!
O explorar desta questão seria mais indicado para outros que não eu, pois infelizmente estive sempre muito desatento nas aulas de biologia (e nas outras também...), mas trata-se de um tipo de reprodução assexuada onde o resultado do ovo não fecundado é uma fêmea e não um macho como acontece nas colónias que designamos de "Zanganeiras". A este tipo de Partenogénese, dão o nome de Telitoquia.
Eu já tinha ouvido falar em zangãos diplóides que, salvo o erro, são zangãos que excepcionalmente nascem de ovos fecundados, a Telitoquia é um pouco o contrário pois nasce uma abelha de um ovo não fecundado.
Isto ainda se torna um bocado confuso! :)

Nas abelhas este fenómeno acontece muito na raça Apis mellifera capensis (capensis de cidade do cabo?) da África do Sul mas, não lhe sendo exclusivo, nas outras raças de abelhas será raríssimo.
Apesar do que possa parecer, não sei se este fenómeno será uma vantagem para a abelha Capensis...

Na próxima "zanganeira" que encontrar (bater na madeira) acho que não me vou preocupar muito com isto e é capaz de ser melhor não estar à espera que as obreiras façam sozinhas uma rainha!

mais em:
http://www.dave-cushman.net/bee/thelytoky.html


sábado, 10 de julho de 2010

Faça você mesmo - Escape de abelhas

Chegada a altura da cresta as abelhas vêem-se obrigadas, coitadas, a abandonar os quadros que decidirmos retirar das colmeias, e para isto pode-se proceder de várias maneiras.
Até agora eu ainda só me servi da vassoura para varrer as abelhas dos quadros mas sei que há muitos equipamentos e métodos para "desabelhar" as alças.
É claro que seja qual for o método é provável que acabe sempre por ir uma ou outra...
Ou então, temos tal à-vontade e desembaraço com as abelhas que acabamos por não dar muita importância ao assunto e damos-lhe um pouco mais de liberdade como um apicultor meu amigo:

Se lhes dermos algum tempo elas acabam por regressar a casa... :)

Este ano estou disposto a experimentar o uso do chamado escape (ou saída) de abelhas, ou escapa-abelhas para simplificar. Já tenho alguns um pouco exóticos que copiei das páginas do David Cushman e também tenho dos de plástico de 8 saídas que se encontram nas lojas da especialidade. Tenho bastante mais escapa-abelhas do que colmeias a crestar!
Com a excepção das saídas Porter, que utilizam uma espécie de mola para impedir a passagem de regresso às alças, os escapa-abelhas funcionam todos um pouco com o mesmo principio, que é o de disponibilizar às abelhas uma passagem (geralmente apertada) para a área do ninho abandonando as alças que queremos crestar, e ao mesmo tempo dificultar o seu regresso.
Estava eu exactamente nestes pensamentos quando me lembrei de uma maneira de fazer um escapa-abelhas usando uma caixa de CDs e algumas daquelas "ponteiras" cónicas que vêem com os tubos de silicone.


Como ando um pouco fraco de madeiras vi-me a obrigado a utilizar um resto de plástico para servir de prancheta suporte ao escapa-abelhas, mas podia-se aproveitar uma prancheta normal.
Não faço ideia se o facto de ser transparente poderá trazer alguma dificuldade !
Fixa-se à prancheta, com parafusos ou pregos, a base da caixa de CDs onde também se fez uma abertura coincidente com o buraco da prancheta.


Fazem-se furos na tampa da caixa de CDs, tantos quantas saídas quisermos que o escape tenha, neste caso optei por quatro mas podia-se pensar em mais ou menos saídas!


Com uma broca como a da foto as "ponteiras" (não conheço o nome técnico da coisa) encaixam perfeitamente e penso que nem precisarão de nenhum tipo de cola.



Fazem-se de seguida alguns furos com uma broca pequena (menos de 4mm), no centro da tampa para distrair as abelhas e leva-las a pensar que o caminho de regresso às alças será por ali. Não se pode fazer muita força no berbequim senão o plástico parte.
As "ponteiras" foram cortadas de maneira a ficarem com uma abertura de 8mm que penso que será suficiente para um zangão passar, mas caso haja problemas de engarrafamento é muito fácil abrir a caixa de CDs e resolver.



Vista inferior


Vista superior, que é onde vão assentar as alças de mel!

Ainda não foi acabado (e será que o vai ser a tempo?) devido à falta de material, como referi em cima, mas o que falta é fazer uma moldura de madeira para a prancheta, com as medidas das colmeias que utilizarmos, de maneira a não deixar grandes espaços entre o escape e a alça de mel porque depois das abelhas a abandonarem há algum risco de pilhagem se uma abelha vizinha tiver acesso aos quadros. Também é importante adicionar algum espaço à colmeia, debaixo do escapa-abelhas, e isso pode ser feito mesmo no escape ou então usar uma meia alça ou algo do género, para não sobrelotar o ninho ou espaço debaixo do escapa-abelhas.




Será que resulta?


sábado, 3 de julho de 2010

A nossa "amiga"

Muito dá que pensar e dizer, a varroa, o principal parasita da abelha de Mel...
Dizer parasita é se calhar um erro pois para além de parasitar a varroa destrói as colónias de abelhas. Quando apareceu a varroa nos sítios onde ela não existia, em Portugal nos anos 80, toda a apicultura mudou.



Distribuição actual - 2010 - segundo universidade da Florida

Nas colmeias a varroa encontra-se mais na zona da criação porque é aí que ela prospera,
e há quem diga que é esperta ao ponto de escolher as abelhas a que se agarra.
A maneira que a natureza da varroa encontrou para escolher as abelhas é o cheiro de Nasanov cujas essências componentes (o Geraniol por exemplo) repelem a varroa, fazendo-a agarrar preferencialmente às abelhas mais jovens onde este cheiro é menos activo.
Coisas que se lêem por aí...


Mas sendo isto correcto, tem alguma lógica pois é às abelhas amas que interessa estar agarrada pois estas é que dão mais oportunidade a varroa de entrar nos alvéolos para se reproduzir. Também é natural que ela se agarre mais às abelhas amas pois é na criação que a varroa nasce e essas são as primeiras abelhas que ela vê.
E por azar as que vão caindo das costas das abelhas vão parar ao estrado, logo tão perto da maior zona de criação, nas nossas colmeias!


Embora já tenha ouvido de pessoas cujo saber respeito e admiro, que a varroa depois de cair no tabuleiro dos estrados higiénicos não volta a subir, eu tenho as minhas dúvidas. Lembro-me de no ano passado andar a observar mais ou menos a queda de varroa nos tabuleiros e de ter apanhado um susto quando, pela altura dos tratamentos, pincelei os tabuleiros com parafina para obter uma leitura mais exacta. Era uma contagem bastante superior do que na semana anterior o que denunciava ou um aumento brusco de varroa ou que há muita varroa que, por não ter nada que a prenda ao tauleiro, consegue abandona-lo.
Depois de ter visto como vi há pouco a mobilidade da varroa ainda mais me convenço disto.



Varroa em larva de Zangão recentemente selada



É incrível o poder que a varroa tem de se agarrar a uma coisa e não largar! Que fará nas abelhas!
É também incrível que, mesmo depois do favo de onde foram retiradas estas ter estado no frigorífico durante a noite, no dia seguinte as varroas existentes ainda estavam vivas. É sinal que aguenta temperaturas mais baixas que as abelhas.


Estas varroas de cor mais clara ou são varroas ainda imaturas ou então são machos de varroa (Varrôos :) ) mas penso que não será o caso porque os machos são mais pequenos. A sua presença nos tabuleiros pode-se dever a comportamento higiénico das abelhas que detectaram um alvéolo infectado e limparam-o. Sendo assim e se este comportamento fosse muito acentuado então estas abelhas seriam de estimar.
A outra hipótese é que sejam varroas que não chegaram a completar o seu desenvolvimento devido ao facto de a abelha ou zangão do alvéolo em questão ter nascido, interrompendo assim o seu amadurecimento e isto certamente que acontece mais no caso das obreiras pois os zangãos como demoram mais tempo a nascer dão hipóteses a mais varroas. Ainda incapazes de se cravar nas abelhas acabam por ser eliminadas pelas abelhas que limpam os alvéolos o que não deixa de ser também comportamento higiénico.
Com um microscópio poderíamos ver se as varroas que caiem nos estrados têm sinais de dentadas de abelha ou partes aparentemente arrancadas, o que de algum modo também traduz comportamento defensivo da abelha em relação à varroa.

Varroas ainda mais imaturas que as anteriores, ou alguns serão machos, e ainda dentro de alvéolo de zangão que foi depois rasgado para fotografar melhor. Fiquei admirado e com a quantidade de criação de varroa mas não quer dizer que toda chegue a adulta. Alguns dos riscos brancos no fundo do alvéolo presumo que sejam os dejectos da cria de zangão.


Estes ciscos escuros não faço ideia do que sejam... ??


Esta é nitidamente uma fêmea!


Em algumas fotos como é o caso desta, a forma da varroa parece-me ser mais a de um macho!





É terrível!

E é incompreensível se pensarmos que ao longo do território português há diferenças de direitos entre apicultores, na ajuda para lutar contra este problema.
Ao assistir a isto tudo é preciso não esquecer que se esta a assistir a algo que é muito prejudicial às abelhas e causa de muitos outros problemas.
Dentro e fora da colmeia...